quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

Uma Madrugada Tempestuosa


   Uma luz bruxuleante clareava o local, deixando-o ainda mais sombrio. Maya sentada na poltrona abraçava os braços em uma tentativa inútil de se esquentar, estava muito frio ali, mais só ela parecia sentir. “Mais uma coisa a ser somada nesse turbilhão de caos” pensava enquanto o homem vestindo roupão olhava através da janela molhada a tempestade lá fora.

   Sua mente fervia pelo número e importância das informações que recebera hoje, ate aquela manhã era só mais alguém querendo sobreviver na cidade, agora era mais uma guardiã de um segredo que apenas uma pequena parcela do mundo sabia.



   Sim, havia procurado informações, pesquisado, se deslocado continuamente e ate se arriscado, tudo para descobrir o segredo, o segredo que levara sua mãe... O segredo que perturbara sua vida, que a torná-la tão difícil e complicada, e quem sabe se não fosse tão esperta e determinada teria a levado a morte.

   Momentaneamente tudo aquilo lhe pareceu uma loucura sem tamanho, que não devia estar ali, o que ele faria agora? Ela já sabia do segredo, já descobrira o que ele era. E ao pensar nisso só uma coisa lhe ocorreu à cabeça. Ele só poderia fazer duas coisas, mata-la ou transformá-la.

   E como se ele ouvisse seus pensamentos, o velho homem lhe disse com um carinho na voz:

- Não irei matá-la querida... Para quê? Agora que sabe, tenho outros planos pra você, e sei que já sabe quais.

   É claro que não iria me matar – pensou, - já teve chance, não se daria o trabalho de me dizer tudo isso e depois acabar com a minha vida... - E percebeu o que ele pretendia. A segunda opção, os outros planos, ela sabia, era a de transformá-la, transformá-la em um vampiro!

   Ela respirava ofegante, ele remexia com o ferro os carvões na lareira que parecia de enfeite, pois apesar de estar ali, não havia quase fogo. Ela ergueu os grandes olhos verdes para ele e fez menção de responder a seu comentário, mais ele falou antes que ela pudesse emitir som.

- Não precisa falar, sei que tudo é muito novo pra você, eu entendo, já vivi isso um dia, sinto seu medo crescente, e lhe digo sinceramente: ele não combina com você.

- Eu sou de carne e osso Sr. Dagrian, o medo esta constantemente perto de mim, como um amigo, que me avisa do perigo. – Ela o fitava com um olhar desafiante, e ele retribuía com um olhar de deslumbre. – Mais nem por isso deixo de caminhar, apenas caminho com mais cuidado, quando se vive tanto tempo na rua, como eu vivi, aprendesse a lidar com o medo, e utilizá-lo a seu favor.

- Então não tem medo de mim, Srta. Maya? Nem de minhas intenções? Estará então você antes do que eu imaginara preparada para meus planos?

- Nunca disse que não tinha medo, mais sim que aprendi a controlá-lo e por isso não estou gritando, nem implorando a você para me deixar ir embora.

- Que bom, pois seria em vão. – Disse em um tom rouco, quase cruel, mas ela como se não tivesse escutado continuou, com o tom desafiante impregnando toda a fala.

– Aprendi Sr. Dagrian, que não é ele que tem que dominar e sim eu. Procurei e encontrei respostas à maioria das minhas perguntas. Entendo muita coisa agora. E estou sim, preparada para encontrar as consequências desta procura, sempre soube que teria que pagar um preço pelas minhas respostas, e para lhe ser sincera não o acho tão caro assim.

   Seus olhos encaravam o dela, como se não acreditasse no que via ou ouvia, e de repente voltou a olhar pela janela onde ainda gotas de chuva escorriam pelo vidro, apesar da tempestade ter se acalmado. Então depois de um tempo de silencio incomodo, Dagrian olhou para ela e com tom de simplicidade disse:

- Então vamos para a ação!

  A luz que clareava o local apagou, ela sabia que o vulto que agora se aproximava dela era a última coisa que viria como humana, sua hora tinha chegado, e ao sentir os dedos frios do jovem senhor em seu ombro, afastou os cabelos e deixou o pescoço livre para o abraço final.

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